Vale a pena seguir carteiras recomendadas?
- Renda variável
- 14 SET 2020
- investo!
TL;DR: não!
Em um primeiro momento, carteiras recomendadas parecem um excelente mecanismo de suporte ao investidor, facilitando a tarefa da escolha dos melhores ativos, como ações, fundos imobiliários e títulos de renda fixa. Contudo, esse serviço prestado pelas corretoras e alguns agentes de investimento apresenta certas características conflitantes que nem todos os investidores têm a real noção.
As carteiras recomendadas nascem exatamente da necessidade de aplacar a dúvida do investidor de onde aportar seu dinheiro. De fato, não é algo trivial e requer certo tempo e análise desprendidos. As contrapartes, então, resolvem cumprir esse papel e facilitar a vida dos clientes que não dispõem do tempo ou conhecimento para executar essa tarefa, e, no final, são recompensadas pelo pagamento da corretagem. Parece, assim, uma troca mutualística.
Contudo, nem todas as informações divulgadas são livres de contexto, e podem acarretar tanto em resultados diferentes do projetado quanto em uma ineficiência de acúmulo de patrimônio a longo prazo. Destacamos, portanto, alguns pontos acerca do tópico em questão:
- corretagem: a carteira recomendada é frequentemente atualizada, em alguns casos com periodicidade semanal. Mesmo que o analista responsável acerte o 'timing' de mercado na compra e venda de ativos (o que é um grande 'se'), a rentabilidade teórica amplamente divulgada não considera os custos de corretagem e tributos envolvidos nas transações. Na prática, isso não é sequer comentado, mas pode transformar um lucro de 20% ou 30% em algo próximo de 2%;
- conflito de interesses: independentemente das oscilações de mercado ou resultados teóricos, as contrapartes sempre ganham dinheiro nas transações de compra e venda. Assim, é natural que seja estimulado o giro de carteira de forma a garantir um fluxo contínuo de caixa para a empresa;
- casas de análise: as contrapartes frequentemente têm feito parcerias com as chamadas 'researches' (instituições independentes de análise e recomendação) como forma de promover a idoniedade do serviço. Muda-se o agente, perpetua-se a mesma prática;
- agentes autônomos e analistas independentes: tente puxar da memória aquela ligação do seu 'assessor/analista/gerente private' recomendando urgentemente o aporte em MGLU3 em 2016 por pouco mais de um real a unidade, por ter feito um estudo detalhado e descoberto que o papel estava 'extremamente descontado para o longo prazo'. Não lembrou? Tudo bem, é porque essa ligação de fato não existiu;
- generalidade: já se perguntou qual o perfil de investidor que a carteira recomendada atende? Nem as contrapartes, que lançam recomendações em ativos da forma mais genérica possível, na melhor prática de 'rede de arrasto'.
Portanto, caso o investidor siga a manada na empreitada da carteira recomendada, a chance de estar deixando dinheiro na mesa é alta. É fundamental que se dedique um tempo mínimo ao estudo das modalidades de investimento, prática que trará um resultado extremamente positivo em um maior horizonte de tempo.