TL;DR: sim!

Considerado o título mais conservador disponível no mercado, inclusive a opção de muitos investidores para a alocação da reserva de emergência devido a sua baixa oscilação e liquidez diária, o Tesouro Selic (também conhecido como LFT - Letra Financeira do Tesouro) teve rentabilidade negativa no mês de setembro, movimento que havia sido visto pela última vez em um longínquo 2002.

Como esse fenômeno acontece? Conforme discutido brevemente em artigo anterior, os títulos públicos diariamente sofrem marcação a mercado. O investidor acostumado a aportar em títulos híbridos ou com retorno fixo, como Notas ou Letras do Tesouro (popularmente conhecidas como IPCA+ e Prefixado), está bastante habituado a essa constante flutuação de preços e taxas. Contudo, um aspecto não muito abordado é que o Tesouro Selic também é um título híbrido (e não apenas pós-fixado como a poupança), apesar da sua componente prefixada ter um baixo valor.

No entanto, como a taxa Selic se encontra em um patamar mínimo histórico, o componente prefixado do título (conhecido como ágio ou deságio) passa a ter um valor proporcionalmente maior no VNA (Valor Nominal Atualizado), o número índice acumulado que representa a valorização diária de um indexador. No contexto atual, a incerteza acerca da dívida pública do Brasil e a baixa procura por esses títulos exige um maior ágio para a venda, conforme ilustrado abaixo:

Assim, com o aumento do ágio cobrado, o preço dos títulos é invariavelmente reajustado pra baixo:

Apesar desse movimento negativo, cabe destacar que no longo prazo todas essas oscilações tendem a ser desprezíveis. Como todo título de renda fixa, o investidor deve manter o ativo na carteira pelo maior intervalo de tempo possível, preferencialmente até a data de vencimento. Dessa forma, receberá o montante contratado livre de qualquer eventualidade do mercado.