Afinal, como começar a investir?

Afinal, como começar a investir?



TL;DR:
Diversificando a carteira por meio dos seguintes instrumentos:

  1. Reserva de emergência;
  2. Títulos Públicos de renda fixa com o maior prazo possível;
  3. Ações Ordinárias e Fundos Imobiliários;
  4. Stocks, REITs e Treasury Bonds/Bills;

Introdução

Cansado de ter seu capital constantemente dilapidado tanto pela inflação quanto por escolhas duvidosas, o leitor sardinha ávido por uma revolução financeira se cadastra no investo! e toma as rédeas da gestão dos seus investimentos. Ótimo início! Passa, então, a compreender a importância de se construir uma reserva de emergência, diversificar o portfólio, evitar fundos de investimento e, sobretudo, não seguir dicas ou carteiras recomendadas. Sem dúvida, etapas importantes na longa jornada de acúmulo de patrimônio.

Em artigos anteriores, apresentamos diversos conceitos sobre os instrumentos disponíveis ao investidor, principalmente referente ao mercado de valores mobiliários. Contudo, o vasto leque de opções pode inicialmente causar certa insegurança exatamente pela sensação de não estar acostumado com operações em ativos que até bem pouco tempo sequer era sabida a existência. Afinal, é possível ter um passo a passo para sair da inércia e finalmente investir aquele dinheiro tanto tempo parado embaixo do colchão? A resposta é um surpreendente sim.

Renda Fixa

A etapa inicial, e indiscutivelmente mais importante, é montar uma reserva de emergência. Recomendamos que o leitor leia o artigo que discorre sobre o tema com maior detalhamento, uma vez que é imprescindível iniciar a jornada financeira com um colchão de liquidez imediata para eventuais contratempos, como a poupança (sim, isso mesmo, a tão demonizada poupança), de forma a não ter que lançar mão dos investimentos de longo prazo.

Uma dúvida muito comum dos iniciantes (e nem tão iniciantes assim) é se os instrumentos de emissão bancária (como CDBs, LCIs e LCAs) são mais interessantes, pois contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até 250 mil reais por instituição, limitada a um milhão, e quando oferecidos por instituições menores costumam ter rentabilidades consideravelmente maior que o indexador padrão (alguns chegando próximo a 180% do CDI, se tratando de pós fixados).

Nesse caso, a questão principal desses títulos não é a segurança em eventual calote e sim o efeito deletério das fricções de mercado (impostos, taxas, corretagens, etc.). Como esses contratos vencem em horizontes relativamente curtos (no máximo alguns anos), a fatia descontada de imposto a cada ciclo de vencimento prejudica o efeito bola de neve dos juros compostos. No longo prazo, essa rentabilidade supostamente atrativa é inócua, já que a taxa acordada não ganha de aporte e tempo. Além disso, o fato de um CDB de banquinho oferecer um valor muito acima do CDI não apenas é mais arriscado, como imobiliza seu capital por um tempo desproporcional ao risco e, sobretudo, induz o investidor ao ‘ciclo vicioso de giro’. Portanto, esses instrumentos devem ser utilizados com parcimônia, preferencialmente com algum objetivo de curto prazo com data bem próxima ao vencimento.

E quanto a previdência privada, devo aportar parte do capital em contratos PGBL ou VGBL de instituições com histórico de resiliência para garantir um saldo no futuro? Definitivamente não, essa talvez é a falácia mais difícil de desmistificar. Recomendamos a leitura do artigo que versa exatamente sobre essa questão.

Considerando que investimentos em renda fixa não oferecem um ganho em si, mas apenas uma correção monetária que evita que seu capital seja corroído pelo efeito inflacionário, qual a melhor opção dessa modalidade? Sem dúvida, títulos da dívida pública através do programa do Tesouro Direto, organizado da seguinte forma:

  • Tesouro Selic: oferece remuneração pós fixada exatamente como um CDB oferecido em qualquer banco (mas com retorno equivalente a 100% da Taxa Selic), considerado o investimento mais conservador existente no mercado;
  • Tesouro Prefixado: oferece remuneração fixada no momento da contratação, por exemplo 7% ao ano. Mesmo que as taxas oscilem no futuro e o preço do título sofra alteração por efeito da marcação a mercado, o investidor não perderá dinheiro se levar o contrato até o vencimento;
  • Tesouro IPCA+: oferece remuneração híbrida com uma taxa fixada no momento da contratação mais a correção da inflação do período, como IPCA + 3,78% ao ano. Esse é o melhor instrumento para se investir a longo prazo e deve-se optar pelo vencimento mais longo possível (2045, por exemplo) sem pagamento de cupons semestrais (o rendimento, ao invés de contribuir para aumentar o total, é repassado ao investidor de tempos em tempos, prejudicando o efeito dos juros compostos).

Com essa previsibilidade de ganho garantida, o investidor pode reservar uma parcela do seu capital para investimentos que oferecem um potencial de retorno consideravelmente maior, como abordaremos a seguir.

Renda Variável

Com a reserva de emergência definida e uma boa alocação em títulos públicos de longo prazo, o ávido leitor decide iniciar seus investimentos na renda variável. Excelente! Invariavelmente, o passo mais importante é vencer o receio de nadar no mar de tubarões e ter a consciência que apesar do mercado oscilar diariamente e estar sujeito a quedas expressivas em determinados momentos (observamos uma retração próxima a 60% nessa pandemia, por exemplo, e menos de um ano depois o índice de ações superou o topo anterior), o único caminho para bolsa de valores no longo prazo é para cima.

Portanto, separe um pequeno percentual do capital para ganhar tração e familiaridade com as operações (inicialmente até 5% do total disponível é uma quantia bem razoável) e vá aumentando conforme sentir segurança no processo de alocação, comprando lotes aos poucos e alterando lentamente o preço médio. No momento da escolha de um determinado ativo por seu valor (e não preço), não se deixe impressionar por quedas de cotação motivadas por notícias na mídia ou um eventual tropeço em resultado trimestral. Esse tipo de evento ocorre centenas de vezes no curso operacional das empresas e não significa nada no longo prazo.

Lembre-se que a analogia é de maratona e não de 100 metros rasos, logo o controle para não vender no fundo em pânico é algo que tem de ser trabalhado precocemente e reforçado sempre que necessário. Se por ventura desistir de um determinado ativo, não fique com a ânsia de esperar o ‘empate’ para sair sem prejuízo, o objetivo é sempre acumular patrimônio e não vitórias na bolsa. Em algum momento uma empresa pode não se adequar mais ao seu perfil de investidor, basta sair da mesma forma que entrou: devagar e ao preço de mercado, sempre operando montantes pequenos para que não ocorram sustos.

Devo começar com fundos de ações pela praticidade e gestão profissional do portfólio de ativos? Definitivamente, não! Além da mencionada ineficiência dos fundos (inclusive os de renda variável e multimercados) e potenciais fricções de mercado, investir nesse tipo de instrumento reforça o modelo mental que o investidor deve delegar o controle da sua carteira a um terceiro, como se ele fosse mais apto a decidir como e onde aportar os recursos financeiros. Casos recentes como o da GameStop comprovam que a realidade é bem diferente.

E quanto a contratos derivativos, de índice futuro, de commodities, de swap e de opções? Devo me aprofundar nesse conhecimento para performar bem no mercado? Devo realizar day trade para complementar a rentabilidade dos investimentos a longo prazo? Boa, sardinha! Completou com maestria a cartela de terminologia de venda de curso de YouTuber picareta que reforça o delírio sardinhesco de viver unicamente de bolsa sem trabalhar. Faltou só FOREX nessa lista grotesca. Se não ficou clara a ironia, a resposta é não, obviamente.

Superado esse alívio cômico para deixar a leitura mais leve, quais os melhores instrumentos para o investidor direcionar os estudos no contexto de renda variável? Essencialmente, temos dois principais ativos:

  • Ações Ordinárias: a menor parcela do capital social das companhias ou sociedades anônimas. É, portanto, um título patrimonial e, como tal, concede aos seus titulares, os acionistas, todos os direitos e deveres de um sócio, no limite das ações possuídas. A título de curiosidade, destacamos algumas empresas com bom histórico de resultados para os estudos: WEGE3, ITUB3, EGIE3, PSSA3, LREN3, BBDC3, ODPV3, FLRY3, RADL3, B3SA3;
  • Fundos Imobiliários: conhecidos pelo acrônimo FII, os Fundos de Investimento Imobiliário são destinados à aplicação em empreendimentos imobiliários, o que inclui, além da aquisição de direitos reais sobre bens imóveis, o investimento em títulos relacionados ao mercado imobiliário, como letras de crédito imobiliário (LCI), letras hipotecárias (LH), cotas de outros FII, certificados de potencial adicional de construção (CEPAC), certificados de recebíveis imobiliários (CRI), e outros previstos na regulamentação. De forma análoga, listamos alguns FIIs com resultados consistentes: HGLG11, KNRI11, HGRE11, VRTA11, VISC11, FIIB11, GGRC11, HGRU11.

O leitor mais antenado pode ter notado o paradoxo da assertividade em evitar fundos de investimentos abertos (como os oferecidos pelo seu banco) apenas para enaltecer fundos imobiliários (fechados e negociados em bolsa). Essa aparente contradição é explicada nesse artigo.

Como os FIIs são obrigados por lei a distribuir a cada seis meses 95% da sua geração de caixa aos cotistas, são ótimos instrumentos para aumentar a previsibilidade do fluxo de proventos que ingressa na carteira do investidor. Na prática, a maioria dos fundos distribui mensalmente os rendimentos até o decimo segundo dia útil, o que facilita ainda mais. Naturalmente, ações também dão direitos aos sócios de participar do lucro das empresas sob forma de dividendos e juros sobre capital próprio, assunto a ser abordado em artigo específico para dirimir os detalhes.

Exterior

A grande dúvida acerca da diversificação dos investimentos no exterior gira em torno da sua legalidade e utilidade. É realmente necessário remeter dinheiro para fora do país como forma de garantir essa diversidade? Não estaria a carteira sujeita a ‘pulverização’ (quando o capital está tão dividido entre diversos ativos que o efeito passa a ser deletério ao invés de positivo)? Além disso, há o evidente trabalho adicional tanto de contratação de conversão do câmbio e remessa ao exterior quanto na declaração anual de imposto de renda feita por pessoa física.

Então vamos por partes: não somente é algo legal, como é justo e necessário. Na prática, não há nenhum mal em ter dezenas, ou mesmo centenas de ativos na carteira. Para quem gosta de bibliografia sobre o tema, no livro ‘O jeito Peter Lynch de investir’, o bilionário autor descreve como a carteira sob sua gestão ficou próxima de milhares de ativos sem qualquer tipo de revés operacional, vale a leitura. Adicionalmente, o investo! proporciona relatórios tanto para rendimentos tributáveis de pessoa física no exterior quanto para capitais brasileiros no exterior (para os inúmeros investidores no blog com mais de um milhão de dólares investidos fora do país ;)). Seu contador vai sem dúvida adorar.

Portanto, ter a possibilidade de acesso a um mercado gigantesco como o americano (só as ações de Apple negociam um valor diário maior que toda a bolsa brasileira), por exemplo, já compensaria essa pequena mão de obra extra. Some a isso o fato de receber proventos em dólar ou euro de forma vitalícia e quanto o ganho auferido apenas com a depreciação do real frente a essas moedas representa. Como não é possível prever o futuro, é prudente que parte do capital fique alheio a ingerências do governo brasileiro tanto ao uso quanto taxação. De forma a facilitar ainda mais, os mecanismos de conversão e remessa evoluíram tanto que todo o processo se resume a enviar um TED e aguardar o dinheiro ser creditado na corretora no exterior (normalmente no mesmo dia).

Em relação aos instrumentos disponíveis, vale a pena operar esses ativos estrangeiros em real por intermédio de recibos na bolsa nacional como BDRs, ou diversificar por meio de ETFs como o IVVB11 e afins? Caso o investidor tenha apenas curiosidade de experimentar a dinâmica dos ativos, pode ser uma possibilidade. Contudo, esses investimentos, embora lastreados em equivalentes no exterior, não representam a segurança desejada de ter recursos fora do país (e portanto alheios a qualquer destempero do governo nacional). Para diversificar realmente, temos as seguintes modalidades:

  • Stocks: são ações de empresas no exterior e funcionam de forma rigorosamente igual ao mercado nacional, com a facilidade de aceitar valores fracionários (ex: 2,47 unidades de AMNZ). Segue relação de empresas com lucros consistentes: MSFT, ROST, HD, AAPL, COST, ANSS, DIS, TXN, ROL, ADBE;
  • REITs: ‘Real Estate Investment Trusts’, o equivalente aos FIIs do mercado nacional; para qualificar-se como um REIT uma empresa deve ter a maior parte de seus ativos e rendimentos ligados ao investimento imobiliário e distribuir pelo menos 90% de seu lucro tributável aos acionistas anualmente na forma de proventos. Algumas empresas com distribuição consistente ao longo dos anos: PSA, O, PSB, AMT, WPC, EQIX, PLD, NNN, ESS, EGP;
  • Treasury Bonds/Bills: assim como os títulos do tesouro brasileiro, nos EUA há a emissão de títulos pelo Tesouro norte-americano. De forma similar, tem tanto característica de ‘short-term’, curto prazo, com vencimento em até 4 semanas, até ‘long-term’ com maturidade de 30 anos.

Com intuito de não depender de valores de cotação do dólar, o ideal é realizar os aportes de forma lenta e gradual até que a carteira atinja o percentual no exterior estipulado no planejamento. Não há necessidade de pressa para garantir uma boa oportunidade de câmbio ou desconto no preço dos ativos.

Conclusão

Caso o leitor tenha permanecido até aqui, parabéns. Saiba que apenas pouco mais de 1% da população brasileira investe na bolsa de valores nacional, e uma fração ínfima nas exteriores. A título de comparação, 70% dos americanos obtêm proventos de aplicações financeiras no mercado de capitais, uma diferença brutal.

Alguns detalhes operacionais como a abertura de contas, escolha da corretora, transferência de valores, etc. ficaram de fora do texto de forma proposital, tanto para não estendê-lo (ainda) mais quanto para que possamos aborda-los futuramente em artigo específico. Caso tenha ficado com dúvida ou queira sugerir outros temas, não hesite em nos contatar (certo, amadas? :)).

investo!

O investo! consolida seus investimentos, informando o valor atualizado do seu patrimônio e a rentabilidade histórica
da sua carteira, além de auxiliar na declaração anual de imposto de renda e emissões de DARFs para ganho de capital.

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