Primeiros passos para o investidor iniciante
- Mercado
- 03 NOV 2021
- investo!
Em artigo anterior, comentamos sobre os melhores instrumentos disponíveis no mercado de capitais e como o investidor pode utilizá-los para começar sua jornada financeira. Essa leitura é interessante para detalhar cada modalidade de ativos que devem fazer parte de uma carteira diversificada, e servirá de base para o checklist de primeiros passos que abordaremos.
Uma vez disposto a iniciar a caminhada de investimentos em busca da tranquilidade financeira, o investidor se depara com uma infinidade de opções e ofertas que nem sempre são compatíveis com seu perfil. A sobrecarga de informação causada pela sopa de letrinhas das diversas siglas de cada instrumento de mercado pode acarretar uma insegurança que leva o investidor a recorrer a serviços de assessoria de investimentos e gestão de patrimônio, comumente disponibilizados por bancos e corretoras, ou até assinatura de casas de análise, em busca das sardinhescas carteiras recomendadas.
Embora a dita orientação profissional não seja exatamente um problema em si, aqui no investo! pregamos que não há ninguém mais capacitado para cuidar do patrimônio que o próprio investidor, até porque é o maior interessado no sucesso das escolhas adotadas na carteira. Além disso, independentemente de estarem ligados a instituições financeiras tradicionais ou fintechs com mais facilidades, esses profissionais tendem a representar mais os interesses do empregador que do cliente, por motivos óbvios, afinal toda essa estrutura de atendimento deve ser custeada de alguma forma.
Face ao exposto, como começar então? A resposta pode parecer algo complexo e detalhista, mas na realidade é exatamente o contrário. No fim das contas, a jornada financeira é sobretudo um exercício de disciplina e paciência, que pode ser relacionada da seguinte forma:
- Quite todas as dívidas: nenhum investimento consegue consistentemente superar os juros e mora de empréstimos contratados, portanto é fundamental que o investidor comece a caminhada livre de dívidas para obter um retorno real;
- Reserve uma quantia no começo do mês: o valor do aporte mensal dos investimentos deve ser garantido antes de qualquer despesa, exatamente para não acarretar na desculpa "só vou investir o que sobrar";
- Monte a reserva de emergência: antes de qualquer iniciativa de investimento, é fundamental um colchão de segurança para que nenhum ativo tenha que ser liquidado antes da hora por motivos de necessidade. Pode ser alocado na poupança de grandes bancos (isso mesmo, poupança!);
- Abra conta em uma corretora de valores: escolha uma instituição financeira com bom atendimento para quando tiver dúvidas operacionais (que certamente acontecerão). Não seja influenciado por valores baixos ou mesmo inexistentes de taxa de corretagem ou assessoria exclusiva, nada disso terá impacto significativo no longo prazo. Esse tipo de economia tem grande potencial de se tornar o barato que sai caro, quando o investidor precisar de auxílio em subscrições ou portabilidade e perceber que taxa zero tem um grande preço nessas situações;
- Considere a possibilidade de abrir conta em uma corretora no exterior: para quem tem domínio do inglês, as melhores opções são a TD Ameritrade, Interactive Brokers e Charles Schwab, as duas primeiras sem custo de corretagem nem manutenção de conta, a última com a possibilidade de ter um cartão de débito para utilizar em dólar. Caso necessite de atendimento em português, a Avenue oferece suporte nativo e recentemente disponibilizou cartão de débito para seus clientes;
- Identifique o perfil: o conceito de identificação do perfil (ou "suitability" no jargão de mercado) consiste em verificar, dentre outros, o apetite a risco do investidor, de forma a determinar o percentual de alocação em cada categoria de ativos. Não há problemas caso o perfil inicialmente seja consevador, a migração para outras classes de ativos pode ser feita de forma gradativa, sem pressa de recuperar o tempo perdido;
- Evite fundos de investimentos, operações estruturadas (COE) e previdência privada: esses instrumentos são excelentes para enriquecer o gestor do ativo e não o investidor (apesar deles jurarem com gráficos e estatísticas que sempre conseguem bater o mercado);
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Diversifique a carteira: talvez o maior erro do investidor iniciante seja negligenciar a etapa que, ironicamente, é a mais importante. A diversificação consiste em definir não somente o percentual destinado a cada categoria (títulos públicos de renda fixa, ações, FIIs, REITs e stocks), mas também a relação dos ativos em si. Parece um impasse paradoxal, uma vez que a dificuldade de escolher bons ativos é exatamente o entrave que os principiantes se deparam. Por conta disso, sugerimos em um primeiro momento uma carteira conservadora com a seguinte distribuição:
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Renda fixa (85%):
- 70% em títulos longos do Tesouro atrelados à inflação sem pagamento de cupons semestrais (NTN-B Principal, ou popularmente anunciado como Tesouro IPCA+);
- 15% em títulos pós fixados do Tesouro atrelados à taxa SELIC (LFT, ou popularmente anunciado como Tesouro Selic);
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Renda variável (10%):
- 5% em ações de empresas nacionais (empresas com bom histórico de resultados para iniciar os estudos: WEGE3, ITUB3, EGIE3, PSSA3, LREN3, BBDC3, ODPV3, FLRY3, RADL3, B3SA3);
- 4,5% em FIIs (FIIs com resultados consistentes para iniciar os estudos: HGLG11, KNRI11, HGRE11, VRTA11, VISC11, FIIB11, GGRC11, HGRU11);
- 0,5% em ETFs lastreados em criptoativos (como HASH11, QBTC11, QETH11, BITH11 e ETHE11);
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Renda variável exterior (5%):
- 2,5% em stocks de empresas estrangeiras (empresas com bom histórico de resultados para iniciar os estudos: MSFT, ROST, HD, AAPL, COST, ANSS, DIS, TXN, ROL, ADBE);
- 2% em REITs (Real State Investment Trusts com bom histórico de resultados para iniciar os estudos: PSA, O, PSB, AMT, WPC, EQIX, PLD, NNN, ESS, EGP);
- 0,5% em ETFs (Exchange Traded Funds, como IVV e VOO);
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Renda fixa (85%):
- Não acompanhe rentabilidade: o tempo todo somos bombardeados com a premissa que o resultado dos investimentos deve superar indicadores ("benchmark", no jargão de mercado) como CDI ou IBOVESPA, mas essa prática só serve para estimular o giro. O resultado almejado da carteira não deve ser bater nenhum índice, mas sim proporcionar a tranquilidade financeira. Portanto, toda alocação deve ser focada em valor e não em preço;