Consórcio: vale a pena fazer?

Consórcio: vale a pena fazer?



TL;DR: não!

Em linhas gerais, o conceito do consórcio é bem simples: um grupo de pessoas ou empresas, que quer juntar uma reserva financeira que será aplicada na compra de um bem ou serviço, abre uma poupança comum. Todos os participantes têm garantido o direito de usar essa conta para a compra do bem ou serviço, em algum momento, dentro de um prazo determinado. Apesar de ser comumente veiculado como uma opção de investimento, é importante destacar que não poderia ser mais distante da realidade. De fato, a única forma de lucrar com os consórcios, é se tornando sócio de uma empresa que oferece esse tipo de serviço, como as instituições financeiras.

Existem diversas razões para não aderir a esse tipo de instrumento. Primeiramente, o consórcio é sobretudo um sorteio e não um investimento. Na prática, a rentabilidade é negativa e ainda há taxa de administração no mesmo molde das cobradas em fundos de investimento. Nesse cenário, é melhor deixar o dinheiro na poupança, que ao menos proporciona algum rendimento. Quando alguém contrata um consórcio, pode receber o dinheiro em qualquer um dos meses de duração do consórcio, já que a definição de quem vai receber é supostamente aleatória. Compreender essa dinâmica é fundamental para que constatar que o consórcio não é um investimento de renda fixa. Se fosse, no final do período o valor retornado seria maior que o inicial. Não é raro casos de pessoas que aguardam uma década para serem contempladas e, então, tomam ciência que no saldo obtido não incidiu nenhum rendimento como ocorreria se fosse aplicado em um ativo financeiro. Ainda há a possibilidade de oferecer um lance, normalmente na ordem de 30 a 40% do valor total da carta para tentar antecipá-la. Contudo, não existe uma garantia de contemplação, o que acaba por aumentar mais o volume injetado no sistema. De fato os consórcios são tão abusivos, que esse modelo só existe no Brasil.

Existe um mito de que os consórcios são melhores que os financiamentos, uma vez que não incidem juros. No entanto, não é divulgado que as taxas de administração dos consórcios são ainda piores que os juros de um financiamento comum. As instituições que oferecem esse tipo de produto cobram de 15 a 25% de taxa de administração. A título de exemplo, uma carta de 60 mil reais pode reter, apenas de taxa de administração, cerca de 12 mil reais. Quanto maior o valor da carta, menor os custos agregados, já que a intenção das instituições é reter o cliente pelo maior tempo possível. Grande parte do lucro é oriundo dos desistentes do consórcio, pois os primeiros meses das parcelas representam a totalidade das taxas de administração. Esse valor não é pago aos poucos como no financiamento comum: o custo é pago nos primeiros meses ou descontado de forma progressiva. Além disso, um financiamento costuma oferecer valores fixos. Já no consórcio há reajuste no mês de aniversário. No momento da adesão, as instituições salientam que o valor da carta será ajustado por algum índice (como o acumulado de inflação), dando a entender que o titular não terá o montante corroído com o tempo. Entretanto, convenientemente deixam de destacar o fato de que o valor das parcelas será reajustado de forma similar. Ao término do intervalo de contratação, é provável que o titular pague um valor muito superior à valorização do seu bem.

Por fim, tal como no financiamento (que é tão deletério para seu patrimônio quanto o consórcio, e abordaremos em um artigo específico) os bens são alienados. Isso significa que mesmo que o titular tenha sido contemplado, ele não tem a propriedade efetiva até o término do pagamento. Suponhamos que você tenha contratado um consórcio de imóvel e tenha sido contemplado. Essa propriedade que representa o sonho da casa própria é apenas ilusório, uma vez que em caso de inadimplência pode ser alienado pela financeira que de fato detém a posse do bem.

Quem é contemplado em um momento posterior apenas pagará pelo administrador e pelos que receberam antes, e, se tivesse investido as parcelas, teria mais patrimônio ao término do período. Além disso, na contratação do consórcio a administradora não faz nenhuma análise do seu cadastro, muito menos no recebimento do lance. Contudo, a entrega da carta de crédito é condicionada a renda compatível, histórico de restrições cadastrais, dentre outros rigores técnicos.

Se, após a argumentação apresentada, o leitor ainda não está convencido, segue uma relação de tópicos para reflexão:

  • Tendo 60 a 70% do valor do imóvel é melhor acumular mais um pouco e comprar o imóvel de uma vez. Também é possível comprar um imóvel na faixa de preço que você consegue pagar ao invés de ir para consórcio.;
  • Existem vários intermediadores que dão lances altos para pegar a carta de crédito e vender. Então caso não saiba muito bem o que está fazendo talvez perca o lance e fique sem a casa por um bom tempo;
  • Apesar de não pagar aluguel, pagará o consórcio que, em sua essência, é pagar para alguém administrar seu dinheiro. Na prática paga o aluguel do dinheiro;
  • Nas simulações e contas parece o melhor negócio do mundo. Na prática, as parcelas são corrigidas mensalmente pelo INCC ou IPCA;
  • Suponha que você faça o consórcio mesmo assim. Descobre, então, que deve comprar tempo pagando as parcelas adiantadas para não pagar dois ou três imóveis no final. Ao solicitar o adiantamento, descobre que, diferente do financiamento, não há desconto ao adiantar, pois supostamente não há juros no consórcio (e sim taxas de administração, fundo reserva, correção da prestação e provavelmente outros encargos e seguros);
  • Ao pagar o lance, há também pagamento de todas as taxas de administração, fundo de reserva, seguro, etc. Ou seja, os encargos, que seriam diluídos em várias parcelas, serão pagos à vista e sem desconto.

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