TL;DR: não!

Em artigo anterior, comentamos sobre uma eventual possibilidade da Tesla ter Bitcoin (BTC) em sua tesouraria ser vantajoso para o acionista. Mas afinal, o BTC pode ser considerado moeda? Criado em 2008 pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, o Bitcoin tem seu funcionamento descrito no whitepaper “Bitcoin: A Peer-to-Peer Eletronic Cash System”. Além do ativo digital, foi criada uma nova infraestrutura de pagamentos (fundada a partir de uma blockchain). No entanto, para que um token (aqui representado como um ativo qualquer) seja considerado moeda, é necessário que tenha três características intríscecas:

• capacidade de ser usada como reserva de valor;
• amplamente adotada como meio de troca;
• poder ser utilizada como equivalente geral (unidade de conta);

Passada uma década e meia de sua criação, o Bitcoin falha em apresentar as funções necessárias para ser transacionada corriqueiramente como moeda. De forma simplificada, as operações comerciais atuais ocorrem em duas etapas. Em um primeiro momento, há a troca de bens ou serviços por algum ativo de valor (ou, para facilitar, dinheiro). Em seguida, esse ativo genérico de valor, o dinheiro, pode ser utilizado na aquisição de novos bens ou serviços. Como esses eventos podemm ocorrer em momentos diferentes no tempo, é possível o acúmulo de riqueza na forma de moeda.

Assim, para que a função de reserva de valor seja exercida, é fundamental que exista estabilidade em relação aos preços da moeda. Nesse caso, a grande volatilidade do BTC impede que o criptoativo seja utilizado como reserva, devido às grandes oscilações diárias que ocorrem em sua cotação.

Além disso, a propriedade de equivalância geral é permitir representar um padrão de medida, balizando trocas. Essa função basilar possibilita que os valores de bens e serviços produzidos em determinada região sejam expressos em unidades monetárias. Não é interessante que determinada mercadoria ou serviço tenha seu valor fixado em Bitcoins pela alta volatilidade. Em questão de segundos, um item pode se tornar muito barato ou muito caro, dependendo da da última cotação.

Por fim, moedas devem transacionar bens e serviços com a maior facilidade possível. Para que sejam consideradas meios de troca, devem ser aceitas como forma de pagamento universal. Diferente de instrumentos monetários oficiais de diversos países, de curso forçado pela legislação vigente, o BTC é aceito somente por entusiastas da tecnologia desenvolvida, o que impede o desenvolvimento orgânico dessa função fundamental.

Face ao exposto, apesar de ter espaço na carteira do investidor como criptoativo, o Bitcoin, da forma como se apresenta atualmente, ainda não tem as características necessárias para substituir moedas como Dólar e Euro nas transações internacionais. Não há nenhuma garantia, contudo, que esse quadro não possa se transformar rapidamente no futuro próximo.